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terça-feira, março 06, 2007

Hoje



Mais um dia, mais uma semana, mais uma luta ...
Ainda hoje vi a casa onde cresci destruída.
Ainda bem que não ouvi o ruído das coisas a partirem, a quebrarem, as paredes a ruirem. Isso era demasiado doloroso.
Mais de 20 e tal anos de memórias, de risos, de brincadeiras, feridas em cima de feridas, os coelhinhos, o chão de pó morno do quintal, e a miudagem de pé descalço, os verões de gelados de gelo 'pintado' para a miudagem do páteo da minha avó.. O cão da minha avó, os meus manos, a minha tia, e a minha avó... sempre a dizer quando eu ia pra casa:
- Ó filha vai pela rua da frente.. tu não tens medo de ir por aí? É tão escuro.
Eu não tinha.
A rua era sempre a direito a subir e dava para a minha casa. É verdade que raramente havia alguém por lá e era mesmo isso que eu gostava naquele caminho.
Desde muito novinha que sempre gostei de escolher os meus 'caminhos'.
- Não tenhas medo que eu não tenho 'vó! Té logo!
E lá subia a rua para a minha casa...
Hoje quando passei lá na rua e vi tudo terraplanado não vi a minha avó a dizer-me adeus...
- Pelo menos hà 8 anos que não diz otária!
Certo, fez em Fevereiro 8 anos que ela foi embora mas eu olhava sempre e 'via' uma sombra que me dizia pra ter cuidado.
Hoje não tava.
Nem vai estar mais.
Adeus avó.
Descansa em paz.

6 comentários:

James Newton III disse...

Empatizo com o que dizes porque já passei por uma situação semelhante. Momentos que passam e que na altura são banais mas com o passar dos tempos e com a mudança, tornam-se estremamente importantes por fazerem parte da memória. A memória dos lugares que percorremos e que de alguma forma afectam a nossa vida, tornam-se ainda mais importantes quando ligadas a pessoas que marcam a nossa vida. Talvez já não vejas essa sombra, mas ela estará sempre na tua memória que evocarás sempre que passares nesse lugar.

Unknown disse...

As memórias, as recordações estarão sempre ai... a casa pode ter desaparecido, a tua avó pode já não estar junto a ti... mas as recordações, os momentos, estarão sempre gravados em ti!!

Beijo

Anónimo disse...

Até me fizeste arrepiar.
A casa, a avó, o espaço, aquele ponto georeferênciado na nossa alma.
É verdade. Alí cresceste, alí já foste feliz em familia, num lugar onde ainda paravam os pássaros para cantar.
Não consigo desassociar a casa da avó, ela enchia uma casa, com o seu carácter, determinação, a sua força de viver. Sinto que são os sinais da avó que se escapam, e se transforma em alma, no entanto,que a força da avó prevalessa para além das mazelas que os escombros possam provocar.
Beijinhos do mano Miguel.

cá-cá (Portugal) disse...

Que essa sombra te acompanhe sempre... o adeus, o 'cuidado!'... as recordações são boas qdo não nos fazem sofrer!! Bjs.

Luís Pina disse...

Pode já não estar entre nós, mas acredito que a tua avó continue a zelar por ti... E continuará sempre, enquanto viver na tua memória... Ama tu*******

Anónimo disse...

Um dia também tu terás um chão morno para outros pés pequeninos pisarem , um dia também dirás a alguém para seguir pela rua da frente e esse alguém fixará na memória o teu olhar , um dia também tu poderás ser a "avó" de alguém e aí sentirás que a vida é este construir sobre o terreno que alguém deixou na nossa alma , que a casa que constróis dentro de ti tem vários tijolos de outra casa demolida . Gostei muito do teu texto . Bjinhos