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sábado, agosto 28, 2004

Nada como regressar ao tempo das cavernas!!

Saudações leitores deste meu blog de maledicência.

O meu ultimo post, sobre o assunto do navio holandês Aurora, recebeu um comentário por parte de uma defensora do Não algo pertinente. O que eu achei muito positivo, visto isto ser um espaço de livre discussão e exposição de ideias.

Não que eu tenha adoptado a facção do Não, mas gostei de ver tão bem esclarecidas e defendidas as suas razões de existência.

O que me traz hoje até vós é a minha revolta sobre a evolução dramática do acontecimento.
Durante uns momentos, quando assisti à notícia, pensei: Afinal a Democracia ainda é apenas um ideal utópico.

O Aurora já passou por vários países na Europa mas teve sempre a preocupação de averiguar e não colidir com o direito nacional dos países visitados. Mas em Portugal, não foi o suficiente.
Portugal tinha que ser um país de excepção, o governo interditou a sua entrada e considera que o Aurora representa uma ameaça à saúde pública quando estacionado em águas territoriais portuguesas. Que questão grave de saúde pública faz com que o governo impeça um barco de atracar?
A inexistência de tolerância pela pluralidade das ideias?

A iniciativa da organização Women on Waves incluia espaços de informação pública, esclarecimento e divulgação desta opção.
O real problema é, a tal substância abortiva que o Aurora transporta a bordo. Interessante...

Gostava de perguntar, os barcos que fazem o transporte de petróleo ou resíduos nucleares são intimidados desta forma quando passam perto da Zona Económica Exclusiva Portuguesa?
Não passam dessas 'coisas' nas nossas águas, nem perto!

Mas houve um outro fundamento para a questão da saúde pública. O barco é uma unidade de saúde móvel não certificada pelas autoridades de Saúde portuguesas... Isso quererá dizer que as autoridades de saúde holandesas são diferentes e regem-se por princípios que não a saúde?

Foi alegada outra justificação para proibir a entrada e atracagem do navio:

O secretário de Estado para os Assuntos do Mar, Nuno Fernandes Thomaz, disse:

"É uma questão de legalidade e não de moralidade. Aceitar que terceiros viessem violar a nossa lei tornaria para nós mais difícil exercer a autoridade com os portugueses",

Pronto, então o problema é que as portuguesas poderiam exaltar-se e retomar a questão da despenalização do Aborto.

Bolas que maçada, fazer um novo Referendo?

Ter de voltar a insistir que não se deve despenalizar, voltar a informar e perder tempo e dinheiro com campanhas?

Se nem o nosso Jorge 'Almighty' esteve para nos aborrecer com eleições para escolher um novo governo, a questão do barco do Aborto não levaria a uma situação diferente.

Nada como dar a sensação que estamos num país sem qualquer tipo de direitos, liberdades de expressão e de escolha.

"O Governo português viola o direito internacional. Viemos para respeitar a lei portuguesa mas somos tratados como terroristas que ameaçam a segurança do país" disse Rebecca Gomperts.

Pois é verdade.. mas nós cá somos mesmo assim para as pessoas estrangeiras com ideais progressistas.

Os verdadeiros terroristas têm direito a grandes ovações, apoio político, um cabaz com tudo o que é bom para a saúde.
É uma vergonha mas é este o estado da nossa democracia.


Um resto de bom fim-de-semana,

Infelizmente sempre a comentar desgraças nacionais,

Letra Negra

2 comentários:

Luís Pina disse...

Talvez os senhores que governam este Portugal também sofram do mesmo problema das pessoas a quem lhes é dado algum poder: fecham a mente. Tanto, que invocam razões perfeitamente descabidas para impedir que o Aurora entre em águas portuguesas, tratando o barco como um petroleiro e a tripulação como terroristas. E o nosso sistema de saúde pública permite-nos exigir mais que os outros países em que este navio atracou?

Pelo menos já causou algum impacto na opinião pública. Mas ainda não o suficiente para se repensar a questão do aborto.

morgy disse...

apesar de ser a favor do não acho totalmente descabida esta decisão de o navio não poder atracar em portugal. pelo menos no navio as mulheres teriam aconselhamento, condições médicas e informação, e chateia pensar que se calhar há para aí outros barcos onde parteiras fazem abortos a qualquer miúda que apareça e sem quaisquer condições... por outro lado não deixo de pensar que sucesso teria este barco nas nossas águas... afinal todas têm de deixar nome e identificação para entrar no barco...